segunda-feira, 29 de novembro de 2010

No dia em que recebe Dilma, PT volta a criticar mídia e pede democratização

Eugênia Lopes e Vera Rosa / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

No primeiro encontro da presidente eleita, Dilma Rousseff, com o Diretório Nacional do PT, o partido ressuscitou a tese da regulação de conteúdo da mídia. Ao final da reunião, ontem, o PT aprovou resolução propondo a "democratização da comunicação" e "um debate qualificado acerca do conservadorismo" que "se incrustou" nos meios de comunicação e na sociedade.

O texto recebeu sinal verde depois que Dilma já havia deixado o encontro. Ao fazer uma saudação ao PT, ela se emocionou e chegou a chorar. Pediu "compreensão", "tolerância" e "maturidade" dos petistas para governar. "Temos de governar para aqueles que nos apoiaram e para aqueles que não nos apoiaram", disse a presidente eleita.

Em meio à disputa travada por partidos aliados que querem ocupar mais ministérios, Dilma pregou a unidade do PT, defendeu as alianças e admitiu haver uma "complexa relação" entre partido, governo e movimento social. "Aprendemos a conviver com as diferenças. E sabemos que é possível, apesar das diferenças, criar um consenso em prol do Brasil", discursou ela, diante da plateia formada por 200 petistas, entre os quais quatro governadores.

Quatro horas depois, a resolução que passou pelo crivo do PT - intitulada "Uma Grande Vitória" - sustentava que, além da reforma político-institucional, é urgente democratizar a comunicação. No documento, o PT diz que fará isso "respeitando a liberdade de imprensa". O texto também prega o "caráter laico do Estado brasileiro" e diz que a atual "guerra cambial" é apenas um dos sintomas das incertezas econômicas e políticas no âmbito internacional.

"Foi uma posição do partido. Não diz respeito à proposta do governo. A ação partidária não está relacionada com ações do Executivo", afirmou o presidente do PT, José Eduardo Dutra. O debate sobre o "conservadorismo" e a renovação da cultura política foram considerados "medidas essenciais para superar o descrédito de amplos setores da sociedade para com partidos e instituições".

Nos últimos oito anos, o governo do PT fez algumas tentativas de restringir a liberdade de imprensa. Em 2009, por exemplo, a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) chegou a propor "controle social" dos meios de comunicação, o que foi interpretado como uma tentativa de volta à censura.

A primeira versão do programa de governo de Dilma entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também pregava o controle da mídia. A proposta apontava medidas para combater o chamado "monopólio" dos meios de comunicação. Diante da repercussão negativa, o comando da campanha retirou a proposta.

Cargos. A divisão de espaços no futuro governo e a formação de um "blocão" no Congresso, integrado por cinco partidos (PMDB, PP, PR, PTB e PSC), dominaram os bastidores da reunião do diretório petista. "O PT e o PMDB estão condenados a se entender e a governar juntos com os partidos que apoiam Dilma", resumiu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, reabilitado na cena política.

A portas fechadas, o PT não escondeu seu apetite por cargos. No governo Lula, o partido ocupa 17 dos 37 ministérios, mas quer ampliar seus domínios. Ficou acertada a criação de uma comissão, com integrantes da Executiva, para fazer o mapeamento das vagas e apresentar sugestões de áreas que o PT quer abocanhar. O PT está de olho em Comunicações, Saúde e Integração Nacional - ministérios administrados pelo PMDB -, além de Cidades, nas mãos do PP.

Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101120/not_imp642736,0.php

Comentário do blog
Democratização, neologismo da moda petista, não quer dizer outra coisa que não controle e distribuição entre os seus (deles, claro).

O PT reafirma seu compromisso com os controles sociais, com a luta de classes e religiosa. Afinal, um Estado que defende a liberdade religiosa se caracteriza por não se impor à prática religiosa, seja em prédios públicos ou particulares. Qualquer determinação que proiba a exibição de símbolos religiosos coloca o Estado não como laico, mas como antirreligioso.

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